sábado, 22 de março de 2014

Com quem as crianças de hoje passam parte do seu tempo?

Para a grande maioria das pessoas, Educação nada mais é do que ensinamentos, aprendizagem escolar e instituições vinculadas ao tema. Penso diferente! Educação é formar um ser humano naquilo em que ele deve ser, afinal trata-se de pessoas com capacidade de raciocinar, sentir, transformar.

Diante disso, tenho verificado um grave problema nas instituições que atuam na área: Profissionais sem a visão de importância do seu papel como educador. Gosto do pensamento de Jung que diz: "Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana". Ele se referia aos psicólogos, mas creio que possa muito bem ser aplicado a médicos, enfermeiros, babás ou qualquer outro tipo de profissional que trabalhe com crianças, jovens, adultos e idosos, principalmente professores que trabalham com crianças! Por que reforço isso? Porque são os mais indefesos. Um jovem, adulto e mesmo um idoso bem debilitado, percebe rapidamente quando são maltratados e por mais sincera que seja uma criança, isso nem sempre é percebido por eles diante de pressões e agressões psicológicas.

Um bebê e uma criança quando maltratada, pode indicar repúdio ante o agressor. Mas quando se trata de instituição de ensino, isso é mais complexo do que se imagina. Os pais entregam seus filhos nas escolas, com o sentimento de que ali é o lugar ideal para que passem horas de suas vidas. Exemplo disso a crescente escolha pelo ensino integral. Pensando assim, imagino que uma criança chegando às 7:00 hs e saindo às 17:00 e ás vezes 18:00 hs por 5 dias consecutivos, passa mais horas no ambiente escolar do que com a família, considerando a necessidade mínima de 8 horas de sono. Nesse sentido, esses pais acreditam no ambiente seguro, com regras definidas, espaço para sociabilização, aprendizagem sob muitos aspectos, boa alimentação, profissionais preparados... Ops! Preparados? Será mesmo?

Qual o nível de paciência e tolerância de um profissional que trabalha com 20 crianças ao mesmo tempo? Sabemos que os castigos corporais foram abolidos das instituições de ensino no Brasil e na maioria delas as variadas formas de castigo também. Atualmente as faculdades orientam atividades lúdicas, métodos e técnicas pesquisadas, como meio de adquirir conceito de regras e disciplina.

O problema é que alguns profissionais ainda não absorveram essa ideia, cada vez mais crescente como modo de educar e parecem saidos da década de 80, pulando para 14 anos após o início do século XXI, como que perdidos em meio a crianças altamente ativas, com pensamento crítico de tudo, parecendo pequenos anões diante do mundo tecnológico e globalizado que as cercam. Quem são esses profissionais? São aqueles que só se preocupam com o conteúdo a ser passado, que se utilizam do fato de serem "autoridade" dentro da sala para ameaçar e agredir psicologicamente uma criança como forma de "educa-la" (puni-la!). São pessoas que não possuem uma das principais características de um bom profissional, em qualquer área: Empatia! ou seja, capacidade de se colocar no lugar do outro.

Ainda existe profissional assim? Mais do que imaginamos. De onde eles surgem? Da vida. Da opção que tiveram em ser professores, como profissão mais acessível e não por gostarem de crianças ou do ato de ensinar. Da fuga da sala de aula, como ouço de muitos pedagogos, tornando-se gestores para o prazer de comandar uma área que tiveram pouca vivência. Das frustrações que possuem na vida, liberando-as em crianças que são obrigadas a fazer silêncio diante da leitura de um texto lido ás 16:30, de modo cansativo, tornando-o desinteressante tanto para quem ouve, como para quem lê. A desatenção é assim considerada falta de respeito, bem como tantos outros conteúdos que precisam ser apresentados, mesmo que não seja útil para sua formação. Isso quando as crianças não são facilmente "diagnósticadas" prematuramente por pessoas sem o menor conhecimento de patologias, como dislexia, discalculia, TDAH e etc. E quando diagnósticadas, imediatamente medicadas, sob o efeito de substâncias como a ritalina, que pra quem não sabe foi utilizada na segunda guerra mundial.

Isso significa dizer que devemos ser sempre compreensivos e "bonzinhos" com nossos alunos? Nada disso! É preciso diferenciar o significado de ser autoritário e ter autoridade. É preciso saber dizer "não", sem humilhar, sem desespero, com firmeza e acima de tudo clareza nos "porquês" dos "nãos". Isso é um tema que requer outro texto, mas posso resumir dizendo que, um professor ao assumir uma sala de aula nos dias de hoje, já sabe as características possíveis do comportamento de uma criança. Sabe que aos 2 e 3 anos eles irão imitar o comportamento dos colegas, que irão se utilizar de uma fala egocêntrica, que podem morder, como meio de se comunicar. Sabem que aos 4 e 5 anos a capacidade de concentração é de no máximo 40 minutos e que a imaginação é muito fértil. Sabem que aos 7 irão começar a formar grupos, que possuem maior vocabulário e capacidade de compreensão, discussão e enfrentamento de situações emocionais... Enfim, para cada idade há pesquisas que nos ajudam a conhecer nossas crianças e nesse caso, pergunto, por que não evitar aulas entediantes e os gritos em sala de aula? Por que não fazer uso das tecnologias disponíveis? Por que não buscar ajuda psicológica ante o stress?

Duas palavras resumem a necessidade dos alunos nos dias de hoje: Criatividade e motivação.

Se por lei é um crime agredir psicologicamente um profissional, considerado isso Assédio Moral, que nome eu posso dar a um professor que se utilizar do medo, como meio de conseguir controle de crianças durante a aula? Como defino um professor que expõe uma dificuldade de aprendizagem de uma criança ante outras crianças? O que fazer diante de pais desavisados que até pedem para que o professor seja severo com seus filhos? Por que o pensamento retrógrado de que o professor manda e deve ser obedecido ainda persiste em nossas escolas?

Fontes: Disponível em: http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/professores-sim-carrascos-nao.htm acesso 22/03/2014

Prazeres, M.F. A urgência de uma educação mais humana e cidadã. Revista Construir. Recife, dezembro 2011.