sábado, 7 de março de 2015

Como uma fênix!


E nesse Dia Internacional da Mulher a minha homenagem é para essa guerreira, exemplo de determinação e resignação diante dos obstáculos que a vida impôs. Nascida em 1933, Maria de Lourdes, minha avó paterna, é entre as muitas mulheres que conheço um exemplo e a minha inspiração para esse texto hj, revelando que as dificuldades da vida não superam as alegrias e o amor pelas pessoas.

Filha de doméstica, conheceu o pai biológico quando adulta, tendo sido criada como filha pelos patrões de sua mãe.
Ano passado tive a oportunidade de bater um papo rico e divertido com essa senhora de 82 anos. Percebi naquele dia o quanto minha avó conservou jovialidade, se negando a parar no tempo e permitindo acompanhar as opiniões do mundo de hj. Se o assunto é religião, tranquilo! Seguindo sua fé no catolicismo, não importa qual seja a crença da pessoa, curte o papo numa boa, sem julgamento e imposições. Se a conversa enveredar pelo futebol, prepare-se! Ela pode te surpreender... Torcedora do Ceará,  é capaz de discutir com qualquer pessoa os rumos do seu time ou do adversário. Mas se o papo for "homem"! Haha! Belas gargalhadas! Que o digam suas netas, pq ela curte demais esse assunto.
Foram 52 anos de casamento e aqui pra nós, o vovô era um homem de muita personalidade. (Pra não dizer que as coisas tinham que ser do jeito dele, hehe!). E lógico que eu não poderia ter deixado de perguntar  quais os segredinhos pra tantos anos de convivência. Entre muitos risos, ela me disse que sempre deixou ele achar que estava no comando ( gente se ele escuta, kkkk!), aprendeu a não dar muita importância as divergências, como a bagunça que ele fazia em casa, em meio aos seus velhos sofás. Ri um bocado, mas sinceramente, acredito que o amor deles se fortaleceu com os obstáculos. Não que isso seja uma regra, mas no caso deles, foi preciso uma dose extra de companherismo.
Conheci 8 de seus filhos, um deles sendo meu pai. No ano que nasci, aos 15 anos eles experimentaram a dor da despedida pelo tio Antônio Tamandaré, falecendo de pneumonia. 36 anos depois, a dor se repete aos 81 anos e sem o seu companheiro, falecido em 2004. O outro Antônio, Antônio Carlos, um dos filhos caçula, que partiu vítima de leucemia. Mas essas não são as únicas de suas saudades... Entre os anos 50 e início dos anos 60 foram 12, isso mesmo! 12 filhos! Crianças que nasciam, cresciam, mas que não passavam dos 10 anos. Ela lembra de cada um, como e porquê faleceram, as idades, tudo. Todos foram vítimas de doenças e de uma época com altos índices de mortalidade infantil no Brasil. Imaginem vivenciarmos essa experiência com uma criança que amamos? Já ouvi muitas vezes a expressão "como é grande a dor de uma mãe ao perder um filho" e inclusive li de Augusto Cury um relato sobre a força de Maria de Nazaré pela partida de Jesus e de seu assassinato. 
Também não sei se é possível imaginar as dificuldades financeiras pelas quais minha avó passou. Devem ter sido muitas...
Isso poderia promover motivos pra ser uma mulher histérica, depressiva, amarga, insatisfeita ou algo do tipo, mas saibam que não foi esse o caminho por ela escolhido. Eu até brinco, dizendo que a vovó tem perfil de jornalista. Adora pessoas, conhecer pessoas, não no sentido de apenas ser apresentada, mas de se interessar pela vida de alguém, saindo de seu mundo e se dispondo a ajudar quem quer que seja. Além de pessoas, também é uma apaixonada por animais e cuida deles com devotamento e carinho. Ela é divertida, extremamente comunicativa, com uma memória melhor do que muita gente por aí. É afetuosa, generosa, acolhedora e óbvio que com toda a sua experiência de vida, decidida e de personalidade firme.
Para provar toda a sua garra, há exatos 40 dias está hospitalizada depois de um começo de AVC e erisipela, além da diabetes e hipertensão.  Nesse ínterim,  foram diversos procedimentos e nessa última semana momentos difíceis com hemorragia generalizada, infecção pulmonar, parada dos rins e duas paradas cardíacas por conta das hemodiálises que precisou ser submetida. Com o corpo cansado, ela permanece consciente, nos ensinando que a vida é muito maior do que as dores e que as alegrias superam tudo e qualquer tristeza.
E se hoje aqui escrevo, cheia de admiração é porque ela soube ensinar aos filhos, netos e bisnetos o real sentido da vida: Amar!